25 de outubro de 2013

Porcelana


Era madrugada, o sol partira a várias horas e a essa altura não dava sinais de que voltaria tão cedo, eu estava sentado na sala de visitas. Minhas pálpebras pesavam, o corpo, entorpecido, pedia por descanso. Um leve toque no ombro, repentinamente, me fez estremecer, virei-me e nada consegui captar com meus olhos, nada além da bela silhueta na porta logo atrás.
Marina. Trazia nas mãos uma bandeja com xícaras azuis de porcelana, uma chaleira e bolo de milho. Pousou-a sobre uma mesinha distante pôs a servir o chá, foi então que ouvi:
  - Mate-a! - um sussurro sibilante adentrou meus ouvidos.
Olhei ao redor para encontrar a fonte, em vão. Nada além da noite cercava o comodo. Não me deixei perturbar, Marina estava em silêncio servindo as xícaras e ajeitando os itens na bandeja.
  - Mate-a! Ou ela fará. - O som penetrou novamente em minha mente e eu estremeci.
Voltei a olhar para Marina, dessa vez a jovem moça misturava algo em uma das xícaras. Do meu corpo entorpecido minha mente viajou. Talia era minha irmã, agora falecida, na ocasião de sua morte, dois dias antes, a vida de súbito a abandonou, e ainda com uma xícara na mão foi a chão, para nunca mais se levantar, a xícara azul se partiu, menos uma para a coleção de três que eu mesmo dei de presente a Marina. Agora, eu que esperava a ligação do Legista sobre a causa mortal, não mais precisava ouvir. A causa era Marina.
Pouco sangue escorreu quando o punhal penetrou seu coração. Ali mesmo deixei a arma. Beijei seus lábios pela última vez quando o coração cessou suas batidas. Minha doce Marina.
Me atirei do seu lado no sofá e aguardei. Logo o telefone tocou, Legista.
Conhecendo o resultado me adiantei.
  - Talia fora envenenada.
  - Não sei quem lhe contou, mas se enganou. Sua irmã faleceu de problemas cardíacos.
Na casa não resta viv'alma e a porcelana permanece no chão, uma feita em mil pedaços a outra com apenas uma rachadura, e uma marca de batom. Agora cá estou. As mangas de minhas vestes são demasiado longas e alguns homens me chamam de louco. Mas não sou, óh bruxa maligna. Marina. Eu percebi que meu punhal de seu peito desapareceu. Maldita Marina.

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